Correntes transatlânticas
Os intercâmbios entre o Brasil e a França se valeram durante muito tempo de quatro canais privilegiados: os religiosos, os marinheiros, os cientistas e os livros.
Os missionários jesuítas, franciscanos, capuchinhos e outros, forneceram uma contribuição maior, pela vocação “universal” da evangelização e por seu enraizamento, exigido pelo objetivo da conversão, o que os levou a recensear e a descrever cada aspecto dessas novas terras: a fauna e a flora, naturalmente, mas também as línguas e os costumes dos ameríndios. Até o século XVII pelo menos, eles constituem um vetor primordial da produção, da acumulação e da circulação dos saberes.
O conhecimento do território brasileiro decorre também das relações de força europeias e do engajamento dos colonos. Após um século durante o qual Portugal garante progressivamente o seu domínio da colônia, os anos 1580-1660 são marcados pela instauração da dupla coroa sob autoridade espanhola (1580-1640) e pelo parêntesis holandês no Nordeste. A ocupação batava de Pernambuco é ocasião de uma nova coleta de dados e de imagens que circularão pela Europa, ao passo que Portugal fecha o Brasil aos estrangeiros. As rivalidades e conflitos, entre a França, as Províncias Unidas e a Espanha particularmente, levam os Estados a colecionar documentos de interesse geopolítico, como prova a coleção de manuscritos e impressos constituída por Mazarino.
Se o interior das terras permanece durante muito tempo mal conhecido, os navegadores dão, por seu lado, notícias dos portos e de seus arredores quando seus navios são autorizados a ali ancorar. Os marinheiros constituem, naquela circunstância, glossários destinados a facilitar a comunicação com as populações locais. Os corsários franceses se distinguirão também por um duplo confronto no Rio de Janeiro, concluído pela expedição de represálias dirigida em 1711 por Duguay-Trouin.
Fora o relato do cientista La Condamine sobre a sua descida do Amazonas, de Quito às costas brasileiras (1743-1744), e os materiais da expedição na Amazônia e em Mato Grosso dirigida por Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-1792), que acabaram parcialmente no Museu de História Natural de Paris, será preciso esperar 1808 e a transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro para que o Brasil se abra para os viajantes. Os franceses, em particular, terão que esperar até a queda definitiva de Napoleão. O século XIX é o grande momento das explorações científicas do país. Assim, o naturalista Auguste de Saint-Hilaire, chegado em 1816 com a missão diplomática do duque de Luxemburgo, empreende de moto próprio um périplo de seis anos [1816-1822], ao longo dos quais acumula uma soma considerável de observações e de espécimens. Outros viajantes também atravessaram o país: Tollenare, Castelnau, d’Orbigny, Biard, Expilly, Coudreau..., e um número significativo de mulheres frequentemente esquecidas, às quais é dada aqui visibilidade.