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Literaturas espelhadas
No início do século XXI, os poetas populares brasileiros continuam a declamar a história de Carlos Magno e dos pares da França, enquanto festas populares reproduzem as lutas entre mouros e cristãos. Um salto cultural oceânico, reunindo Idade Média e Brasil contemporâneov
No século XIX, é óbvio que o espaço brasileiro não oferece aos escritores franceses nada comparável ao que foi a “viagem no oriente”. Na maior parte das vezes, ele interessa a uma literatura de gênero, que apesar de ser considerada “menor” tem contudo seus florões.
A tradição de livreiros franceses se instalarem no Brasil foi mantida ao longo do século XIX. Um dos pioneiros foi Paulo Martin, herdeiro de uma família de livreiros de origem francesa que se instalara em Portugal e que depois foi responsável por uma nova livraria no Rio de Janeiro.
O contato entre as literaturas do Brasil e da França foi especialmente intenso nos séculos XIX e XX. Já no século anterior, narrativas e poesias, de lavra européia, escritas dialogando utopicamente com a natureza e a vida dos habitantes dos trópicos, faziam sucesso no mundo.
Conhecimentos e zonas de turbulência: A Revue des Deux Mondes - Olhares cruzados
Espetáculos teatrais foram um dos principais meios de difusão da cultura e dos valores franceses no século XIX. O prestígio do repertório e a admiração pelos artistas ajudaram a consolidar a hegemonia cultural da França, estreitando sua conexão com o público brasileiro.
Em 1844, quando o folhetim Os mistérios de Paris começa a ser lançado em português, Atar-Gull e A Salamandra são duas obras já conhecidas e apreciadas. O sucesso de Eugène Sue é enorme nesta sociedade fracamente alfabetizada e escravagista do Império.
O romance de mar, frequentemente inspirado do que viveram seus autores e por isso parente próximo do relato de viagens, é delimitado por fronteiras também permeáveis às aventuras voltadas para o público infanto-juvenil.
A publicação transatlântica dos melhores autores brasileiros do século XIX por editores franceses possibilita a compreensão de que a separação entre história literária nacional e internacional deve ser suplantada por um modelo globalizante de análise.
Entre 1947 e 1950, em um momento em que Proust está esquecido na França, ele ganha um interesse inédito no Brasil. O fenômeno, ligado à emergência de uma tradução de La Recherche du temps perdu em 1948, está longe de se limitar unicamente a esse empreendimento editorial.