Os arquivos fotográficos da Fundação Pierre Verger são constituídos, com raras exceções, de imagens realizadas por Pierre Verger (1902-1996), ou que o representam. Trata-se de cerca de 60 400 negativos em preto e branco de formato 6x6, 1 300 positivos em cores e 93 000 fotos impressas, entre as quais 81 500 contatos.
Entre as 11 500 fotos impressas de tamanho médio e grande, cerca de 8 000 foram realizadas ainda em vida de Pierre Verger, as 3 500 restantes, essencialmente analógicas, foram produzidas pela Fundação após a sua morte por ocasião de projetos de publicações ou de exposições.
As 8 000 fotos impressas originais de P. Verger podem ser estruturadas basicamente em três grandes conjuntos, significativos de sua produção fotográfica:
• As fotos impressas realizadas entre 1934 e 1948 mostram sua produção de fotógrafo viajante. Comercializadas por agências fotográficas, essas fotos impressas de tamanho médio, principalmente 18x24 cm e 24x32 cm, foram produzidas para serem apresentadas aos clientes da agência fotográfica Alliance Photo (1935-1939) e, depois, da agência ADEP, que a substituiu no final dos anos 1940. A Fundação possui igualmente 1 450 folhas de contato, cada uma com 12 imagens 6x6 cm, utilizadas por essas mesmas agências e representativas das viagens feitas por Pierre Verger entre 1933 e 1944.
• Nas fotos impressas realizadas entre os anos 1950 e 1970, Pierre Verger se concentra nas culturas baianas e suas origens africanas; as impressões realizadas nesta época, provavelmente feitas pelo próprio fotógrafo, são em geral de tamanho pequeno (18x24 cm) e não tinham nenhuma intenção comercial, artística ou documental. Verger queria simplesmente mostrá-las às pessoas com quem cruzava em suas incessantes viagens pelas regiões africanas do Golfo do Benin e em Salvador, onde se estabeleceu no pós-guerra; ele apresentava particularmente, aos membros das comunidades afro-brasileiras, alguns aspectos de suas origens africanas e, às populações beninenses e nigerianas, o modo como seus costumes sobreviviam do outro lado do Atlântico. Verger torna-se assim um mensageiro entre os dois continentes e suas fotos contribuem para recriar laços entre populações separadas pela escravidão.
• Finalmente, as fotos impressas realizadas nos anos 1980-1990 foram essencialmente produzidas por ocasião de exposições e publicações retrospectivas. Trata-se ou de fotos de pequeno formato destinadas a obras publicadas no Brasil nessa época pela editora Corrupio, ou de fotos impressas de alta qualidade – muitas vezes assinadas – realizadas em Salvador por Mario Cravo Neto ou em Paris por Ricardo Moreno, para exposições apresentadas respectivamente na França e nos Estados Unidos nos anos 1990.

Xango, Ifanhin, Bénin (Années 1950) © Fundação Pierre Verger
Esses arquivos fotográficos estão guardados na própria Casa de Pierre Verger – a Fundação Pierre Verger. O conjunto foi catalogado, limpo e está conservado em condições climáticas adequadas. Todos os negativos foram digitalizados em alta resolução e o conjunto de sua obra está agora acessível na Fundação Pierre Verger através de uma base de dados dedicada.
A conservação desse fundo é uma prioridade da Fundação e sem dúvida um dos aspectos que a distingue de outros lugares mais tradicionais dedicados à conservação e à difusão de arquivos. De fato, a Fundação Pierre Verger não é apenas um local de arquivamento e de pesquisa, mas também um espaço cultural e sociocultural, que se define como um lugar de encontro entre pessoas de perfis universitários distintos, mas também oriundas de horizontes geográficos e sociais variados. A vontade de não disponibilizar online a integralidade de seu fundo, apesar de ele estar digitalizado, visa a incentivar os pesquisadores a virem fisicamente à Fundação, a fim de partilharem o cotidiano da população local que participa das oficinas – culturais e de formação cidadã – ali propostas gratuitamente. A Fundação propõe também residências a artistas que têm, então, acesso ao acervo com o intuito de desenvolver projetos que frequentemente abordam problemáticas ligadas às culturas africanas e afro-brasileiras.
A Fundação Pierre Verger afirma-se assim como um espaço vivo, historicamente fundado na gestão de fundos de arquivos, que tem como vocação facilitar pesquisas e promover trocas entre pessoas de horizontes diferentes.
Publicado em Setembro de 2025